terça-feira, 4 de setembro de 2007

Nove meses de angústia

O título pode parecer trágico demais - e ele é trágico demais - mas é certo que o tema cairia bem em uma daquelas novelas das oito, tipo "Páginas da Vida". "E agora mãe?", vídeo-documentário sobre anencefalia fetal, tem o objetivo de, segundo um de seus produtores, Felipe Mesquita, mostrar histórias de pessoas que passaram pelo problema, além de fazer uma reflexão sobre anencefalia no Brasil. Bom, um pouco de sensacionalismo é sempre bom para deixar o povo comovido, e esse assunto tem tudo pra derramar lágrimas da platéia mais sensível. Ainda mais quando se trata de histórias de vida, tão trágicas e tão emocionantes.

É o caso do casal Maria Inês e Valdir de Carvalho. Inês teve duas gestções de fetos sem cérebro, mesmo assim prosseguiu com a gravidez, mesmo sabendo que os dois morreriam pouco tempo depois. O casal agora têm uma filha saudável.

Especialistas afirmam que qualquer mulher está sujeita a passar por esse problema. A solução, no entanto, é simples, basta a mãe ter uma alimentação saudável e complementar o seu cardápio com uma vitamina chamada ácido fólico - que diminui em até 70% as chances de o feto ser mal-formado.

Mas se a solução é tão simples, porquê os casos de anencefalia são tão frequentes, como afirmam os produtores dodocumentário?
É por que nem todos têm informações sobre o assunto. Esse é o núcleo de nossa novela, a falta de informação.

O tema é forte e dá um debate interminável, ainda mais se levarmos em conta tudo o que pode ser discutido ao seu redor. Por exemplo, o direito ao aborto. De acordo com a Lei Federal, aborto é crime, a menos que a gestação ofereça risco de morte a mãe ou ao bebê. Isso anula qualquer possibilidade da mãe abreviar o nascimento da criança. As religiões também estão sempre presentes na mesa de discussões. De acordo com autoridades religiosas, há uma vida esperando para nascer, independentemente de ser anencéfala ou não. Portanto pecadores, esqueçam, jamais eles permitiriam tal atrocidade. O que eles não percebem é que não há necessidade de uma mãe carregar em seu ventre um filho que não tenha possibilidade de ter uma vida quando nascer. Além disso ela terá que passar por toda a dor física que terá durante nove meses de gravidez e durante o parto, e sofrerá ao imaginar seu filho nascendo e morrendo logo em seguida.

A falta de informação

Outro ponto interessante sobre o tema é, por que se fala tão pouco sobre isso aqui no Brasil. "Nosso documentário vai mostrar que a anencefalia é tão comum quanto imaginamos", afirma Mesquita. Tão comum? A cada 700 nascimentos, um é anencéfalo, de acordo com o geneticista Thomas Gollop. Bom, de certa forma é comum se contarmos que a população brasileira é de 189 milhões, 637 mil e 756 habitantes. Em dados mais amplos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, em cada dez mil gestções, nove são anencéfalos. Os dados são até que "alarmantes", pois são 50 vezes maiores do que países como Bélgica, França ou Austria.

Ainda é possível crer que o Brasil, por ser mais pobre que esses países, tem naturalmente mais ocorrências da doença, afinal, a desnutrição e fome são problemas já conhecidos aqui na terra do samba. Apesar disso, Mesquita afirma que questões geográficas não influenciam. "A maior parte dos casos está na região sudeste, e não no nordeste, que é mais pobre", completa.

Segundo a Febrasgo - Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia - a maioria das mulheres que tiveram gestações anencéfalas eram usuárias do SUS - Sistema Único de Saúde - e eram pobres.

Rodolpho Salles

Um comentário:

Anônimo disse...

Belo trabalho de pesquisa. Só faltou dizer que o documentário tem relação com o IMES...